Maria Marighella, neta do guerrilheiro considerado um dos maiores inimigos da Ditadura Militar no Brasil, Carlos Marighella, pretende s...
Maria Marighella, neta do guerrilheiro considerado um dos maiores inimigos da Ditadura Militar no Brasil, Carlos Marighella, pretende se filiar ao PT neste ano para disputar uma vaga como vereadora na Câmara Municipal de Salvador (CMS). Em entrevista ao UOL, ela confirmou a sua intenção de levar para frente uma candidatura coletiva.
"Eu realmente acredito no partido, em sua história e na decência de sua composição [...] foi o partido responsável pelas políticas públicas que mudaram a feição da cultura no Brasil, e desse processo eu participei ativamente, mesmo sem ser do partido", relata.
A proximidade com a legenda pode ser vista como uma herança familiar, já que a sua avó Carlas Chaf, viúva do líder da luta armada contra o regime autoritário, é uma das fundadoras do PT.
Formada em teatro pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Maria participou na adolescência da Juventude Comunista e, hoje, é assessora especial da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Desde 2012 ela atua com gestão pública, coordenando teatros e participado do Conselho de Política Nacional das Artes.
Apesar de ter nascido sete anos após o assassinato de Marighella, morto pelo Exército brasileiro, Maria tem uma ligação próxima com a história do avô. Aos 13 anos, ela viajou para São Paulo para receber uma homenagem em meio a uma greve estudantil mediada por Eduardo Suplicy.
Contemporânea de Wagner Moura no teatro baiano, Maria foi responsável por atiçar no ator e diretor o desejo de transformar a história do ex-deputado e combatente comunista em filme. A neta de Carlos Marighella deu a ele uma biografia em 2013, recém-lançada. Desde aquela época, segundo Maria, foi difícil encontrar apoio e financiamento para o longa, mas admite que a medida que os anos foram passando a situação piorou.
"O Brasil vem tendo guinadas e transformações políticas desde 2013. E desde aquela época, a tentativa de Wagner de fazer o filme já foi difícil. É importante que a gente revele que os desafios para o "Marighella" foram se complexando na medida em que o Brasil ia tomando alguns contornos políticos. A polarização ninada em 2013 fez nascer um tipo de reação ao filme que Wagner encontrou desde o início, porque já havia muita dificuldade de captar [recursos]. Mesmo sendo Wagner, um ator de sucesso, mesmo com a O2 Filmes, a produtora, por trás", relata.
Maria reforça a necessidade de que a história de Marighella seja contada ao povo brasileiro e o coloca em um nível de importância nacional, bem acima do próprio presidente atual da República, Jair Bolsonaro. Por sinal, ela garante que não desperdiça o seu tempo para comentar sobre o capitão, já que o considera uma espécie de bode expiatório para uma estrutura entranhada no estado brasileiro.
"Eu acho que o personagem Marighella é muito maior do que Bolsonaro, que era um deputado pouco relevante. Na verdade, eu falo muito pouco dele porque realmente acho que o nosso problema hoje é muito maior", opina Maria Marighella, que se refere ao avô como um "ativista político" que lutou pela igualdade social.
Carlos Marighella foi um dos fundadores da Ação Libertadora Nacional, grupo de luta armada que combateu os militares durante o regime no Brasil, que durou de 1964 a 1985. Ele foi assassinado no dia 4 de novembro de 1965. Mais de 30 anos depois, o Estado reconheceu a sua responsabilidade pela morte do guerrilheiro, e ficou decidido que a sua companheira, Clara Charf, deveria receber pensão vitalícia do governo, em um ato de anistia póstuma.
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