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Os riscos do hormônio do sono vendido em cápsulas

 




Com a rotina marcada pelo excesso de informações, estímulos e telas, é cada vez mais difícil deitar na cama e logo dormir. De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 70% da população sofre com algum tipo de alteração no sono. O índice não é baixo e vários motivos podem contribuir para esse cenário. Entretanto, recentemente, houve uma onda de procura por produtos para estimular o sono, como é o caso do suplemento de melatonina.


O produto promete facilitar o sono, mas não há estudos suficientes que comprovem que seja eficiente. Mesmo assim, ele segue no mercado e já ganhou muitos adeptos. Em geral, são pessoas que não buscaram um profissional para identificar os reais problemas por trás da insônia e optaram pela automedicação, o que pode ser perigoso.

Segundo João Carlos de Jesus, médico especialista em sono, a melatonina é um hormônio produzido pelo cérebro que indica que é hora de dormir. “Durante o dia nosso organismo produz o cortisol e durante a noite produz a melatonina. Assim que a luz solar chega aos nossos olhos, passamos a produzir o cortisol. Da mesma forma, no final no dia, a melatonina passa a ser produzida com a ausência de luz e vai nos levar ao sono”, explica.

Na prática, a baixa produção de melatonina gera certa dificuldade para dormir. “A maioria das pessoas produz natural e adequadamente a melatonina. No entanto alguns comportamentos podem fazer com que essa produção seja reduzida, como a exposição à luminosidade excessiva. Hoje, com o uso das telas, a luminosidade muito próxima dos olhos inibe a produção apropriada do hormônio”, diz.

Dessa forma, se a pessoa não alterar esse comportamento, o problema persistirá. E, para quem pensa que a automedicação é o caminho para resolver o distúrbio, o especialista alerta: “existem algumas alterações hormonais, neurológicas e psiquiátricas que comumente causam insônia e, quando se usa a melatonina ou outros recursos medicamentosos que façam dormir sem que esse problema seja resolvido, acontece um atraso no diagnóstico e a causa principal não é tratada, o que pode agravar a questão e repercutir de outras formas no organismo”, esclarece.

No Brasil, o suplemento de melatonina foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro de 2021 e é útil em casos específicos, mas precisa ser recomendado por um profissional capacitado. A Anvisa, no entanto, contraindica seu uso por gestantes, lactantes e crianças. Entretanto, por negligência de muitos pais, o produto chegou ao público infantil.


Melatonina e as crianças
Para estimular a criança a dormir mais rápido, muitos pais estão adotando o suplemento de melatonina. Porém, além de contraindicado, na maioria dos casos ele é desnecessário, afirma a médica pediatra Roberta Esteves Vieira de Castro: “de forma geral, o hormônio é produzido naturalmente, mas o que acontece é que na grande maioria das vezes o sono infantil reflete o comportamento da família. Dessa forma, os pais têm uma responsabilidade muito grande de ajudar a criança a desenvolver bons hábitos de sono”.

Por ser um suplemento e não um medicamento, os produtos comercializados nas farmácias para reposição de melatonina não passam pelos rigorosos testes de aprovação de autoridades de saúde. “Não sabemos quais os riscos do uso da melatonina a longo prazo para as crianças. Estudos apontam ainda que os comprimidos podem ter dosagens diferentes e podem levá-las à intoxicação. Não temos dados no Brasil ainda, mas o número de intoxicações de crianças por melatonina nos Estados Unidos aumentou 530% em nove anos”, afirma Roberta.

A pediatra acrescenta que a ingestão excessiva da suplementação pode levá-las inicialmente a ter dor de cabeça, tontura, irritação e até a quadros mais graves, que necessitam de internação.

Estimulando o sono
Roberta ressalta que ao longo dos dois primeiros anos de vida a criança precisa de uma atenção maior, pois está desenvolvendo suas funções básicas. “É o momento em que o cérebro tem uma atividade importante para estimular o aprendizado e a memória. E, se a criança não dorme bem, isso pode prejudicá-la no futuro”, diz.

A dificuldade para dormir pode ser contornada com a adoção de hábitos saudáveis: “é preciso incentivar os filhos a terem horários regulares para dormir e para acordar e desenvolver um ritual de sono para que a criança possa se acalmar”. Os pais e responsáveis podem, por exemplo, concentrar atividades mais agitadas para a parte da manhã e as mais tranquilas para a da tarde.

Outra dica interessante é o controle do uso de telas, pois a luz emitida pelo celular e outros equipamentos tecnológicos faz mal para adultos e crianças. Além disso, manter as luzes da casa mais baixas e evitar excesso de sons ajudam na hora de dormir. Esse caminho pode ser mais demorado, mas, com certeza, é mais saudável para as crianças.




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